
A Biblioteca Nacional de Portugal assinala os 250 anos do nascimento de Bocage com a exposição
Da inquietude à transgressão: eis Bocage…, comissariada por Daniel Pires, e uma série de conferências sobre o poeta.
Bocage viveu numa época especialmente interessante do ponto de vista teatral. Em Portugal, tal como no resto da Europa, assiste-se ao aparecimento de uma nova maneira de encarar a atividade dramática e as suas relações com a sociedade. A clara separação existente até então entre o teatro de Corte, inacessível aos de fora, e o teatro popular itinerante representado em feiras e pátios de comédias vai-se esbatendo, à medida que surgem os teatros públicos de entrada paga, onde acorrem quer as elites, quer o público iletrado.
No discurso dos pensadores e dos filósofos do tempo, o teatro é apresentado como uma atividade de utilidade pública, com uma função moralizadora dos costumes e da educação cívica dos cidadãos. Verney, Cândido Lusitano, Correia Garção são unânimes em apresentar o teatro como uma verdadeira «escola dos povos» e a mesma ideia está na base da reforma impulsionada pelo Marquês de Pombal, quando cria a
Sociedade para a subsistência dos Teatros Públicos da Corte.
A instituição dos teatros públicos e a vigilância exercida pelo poder político sobre eles são apectos a ter em conta quando nos debruçamos sobre a produção dramática dos autores setecentistas. O surgimento e a proliferação de certos géneros, como o elogio dramático e o drama alegórico, pode ser entendida a esta luz: eram representações destinadas a celebrar acontecimentos circunstanciais, mas que se prestavam especialmente bem à glorificação da Monarquia e do Estado.
Acostumados a ver Manuel Maria Barbosa du Bocage como uma figura transgressora no panorama literário da época, tendemos a esquecer-nos de que foi, também, um homem inserido na cena cultural do seu tempo e autor, também de peças deste tipo.